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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O U209PN OU U214 OU .....PORTUGUES

O U-209PN, o U-214 e o contrato de fornecimento à Marinha Portuguesa

A formalização do contrato de aquisição por parte da marinha portuguesa de dois submarinos, com o objectivo de substituir os antigos submarinos Albacora, adquiridos nos anos sessenta, gerou alguma confusão relativamente às suas características, e nomeadamente ao tipo ou família de submarinos em que os futuros U-209PN se inserem.

A família U-209, tem origem na Alemanha São construídos no inicio dos anos 70, depois de os aliados ocidentais, terem levantado a restrição a que a Alemanha produzisse submarinos com mais de 1000 toneladas de deslocamento, dado até ali a Alemanha se ter limitado aos pequenos U-205 e U-206 costeiros.

O U-209, é assim um submarino que se baseia parcialmente nos mais pequenos U-206, mas com maior tamanho, capacidade das baterias aumentada, propulsão mais potente, lemes horizontais retracteis a vante, montados a baixa altura na proa, lemes cruciformes a ré e uma tripulação reduzida. O U-209 foi um enorme sucesso de exportação, tendo sido vendidos U-209 para vários países, como o Equador, a Venezuela, a Indonésia, a Colombia, o Brasil, a Grécia, a Turquia ou o Chile.

O U-209-1100 e U-209-1200 são portanto, os primeiros U-209 a aparecer no mercadi. Eles têm um deslocamento de aproximadamente 1300 Toneladas em imersão, e são perfeitamente capazes de operar no oceano. O U-209-1100/1200 é reconhecível pela sua característica "bossa" na base da vela, e que é uma característica herdada do U-206, embora a sua configuração seja diferente.

U-209-1200 o mais pequeno dos submarinos da família 209, com propulsão convencional a Diesel. Mesmo assim, muito maior que o U-206.

A familia desenvolveu-se com o tempo, e foram sendo criados submarinos maiores, com a incorporação de novos sistemas, maiores motores e maior autonomia, que resultaram nos submarinos U-209-1300/1400. Mais compridos que os anteriores, e reconhecidos pela não existência da característica bossa. Com a supressão desta característica, pretendeu-se reduzir o nível de ruído quando o navio está submerso, dando-lhe melhores características hidrodinâmicas.

Os U-209 mais recentes: Mais compridos, electrónica melhorada, mais espaço, alteração de linhas exteriores, mas a mesma estrutura básica


Os novos sistemas de propulsão, independente do ar (AIP, de Air Independent Propulsion)

No fim da década de 80, voltam a ser considerados estudos para a utilização de um sistema de propulsão independente do ar.

Até aqui, os submarinos convencionais, estão dependentes de um motor a Diesel, ligado a um alternador, produzindo assim energia eléctrica que alimenta o motor eléctrico do submarino, podendo ao mesmo tempo carregar as baterias. Mas claro, o motor a Diesel, para funcionar, precisa de ar.

O submarino, pode submergir durante um período limitado de tempo, desligando o motor a Diesel, e sendo movido pela energia eléctrica das baterias, mas quando as baterias se descarregam, a única hipótese, que resta ao submarino, é voltar a ligar o motor Diesel, para recarregar as baterias.

Isto apresenta dois problemas:
Por um lado, o ruído do motor a Diesel, mesmo nos mais modernos, é relativamente elevado, o que pode constituir uma desvantagem, e pese embora o facto de não ser provavelmente ligado o motor a Diesel numa situação de conflito ou onde houvesse possibilidade imediata de detecção.
Por outro lado, o motor necessita de ar (Oxigénio, para ser mais correcto), e este tem que ser obtido, emergindo, ou subindo para uma profundidade que permita ao fazer emergir um tubo, que lhe permite a entrada de ar, para colocar em funcionamento os motores a Diesel. Chama-se a isto profundidade de «Snorkel». A desvantagem é que os equipamentos de Radar e Sonar dos dias de hoje, conseguem detectar mesmo a parte superior do «Snorkel», dando assim a conhecer ao potencial inimigo a sua posição.

O Sistema de Propulsão Independente do Ar, ao invés, permite ao submarino aumentar a sua autonomia em submersão, de 48 a 72 horas (o tempo que decorre num submarino convencional até que as baterias tenham que ser recarregadas) para um período que pode ir de 15 a 21 dias. Isto ocorre, porque se produz energia eléctrica, por meios químicos, sem que seja necessário ao submarino vir à superfície.

Do ponto de vista táctico, um submarino com AIP, é quase invisível, e torna-se quase impossível saber onde se encontra, ou para onde se deslocou submerso. Desde o último dia em que houver uma informação sobre a sua localização, podem passar dias ou semanas, até que se saiba onde se encontra.


O concurso para a substituição dos submarinos Albacora:
Os sistemas AIP MESMA e de Células de Combustível

Quando Portugal, abriu um concurso para o fornecimento de novos submarinos, de imediato, dois concorrentes se destacaram:

Os franceses, com o seu novo submarino Scorpéne, com uma proposta para um submarino com o sistema AIP conhecido por MESMA, e outra proposta para um submarino sem o AIP, idêntica aos Scorpene posteriormente vendidos ao Chile.
Os alemães com o U-209-1400, na sua última versão, SEM AIP, mas com possibilidade de incorporação de um sistema AIP de células de combustível. O submarino francês, era superior ao submarino alemão. No entanto, nas versões com AIP ou "Preparadas para futura incorporação do AIP" a situação não era tão clara.

Além disso, a instalação do AIP nos Scorpene, parece ser mais simples que nos U-209, uma vez que, nos Scorpene, se trata de acrescentar um módulo (secção), enquanto que nos U-209, é necessário acrescentar os tanques de Hidrogénio e de Oxigénio, noutras secções do submarino, numa operação bastante mais complexa e custosa.

Durante o período de análise, há um congelamento do processo que arrasta a possível de cisão da marinha portuguesa durante muito tempo. O atraso da decisão é provocado por razões políticas, técnicas e outras, (que não são objecto de análise nesta matéria) de tal forma que, só com a tomada de posse do governo seguinte, em 2002, o tema do concurso para a aquisição de novos submarinos volta novamente a ser tocado.

Nessa altura, a preferência, segundo as informações divulgadas pela imprensa, é principalmente para o sistema francês, e para o submarino Scorpéne. O U209-1500 com AIP, é eficiente, mas trata-se de um submarino com mais de 30 anos. Na altura em que as novas propostas são apresentadas, o U209-1500 parece estar condenado a não ser aceite.


U-209-1400 e o 1500 com AIP com a inclusão de uma secção adicional, que lhe permite utilizar o sistema de propulsão AIP. Estes dois submarinos, constituiram a primeira proposta da HDW à Marinha Portuguesa.

Surpresa introduzida pelos alemães da HDW

No entanto, quando as novas propostas são apresentadas, há uma curiosa surpresa:
Enquanto que a DCN francesa, apresenta uma nova proposta, para o Scorpéne com alterações para se adequar às novas exigências técnicas da marinha, a HDW, apresenta algo diferente. Apresenta um submarino, com AIP de raiz (O AIP não será colocado posteriormente) e com características muito diferentes no que respeita a tamanho, arranjo interno, dimensões e linhas exteriores.
Este submarino será chamado U-209PN.

O U-209PN da marinha portuguesa

O submarino apresentado pela empresa HDW, na segunda fase do concurso, apresenta características diferentes dos anteriores. Ao contrário dos submarinos anteriormente propostos, do tipo U209, este último (U209-PN) tem sistema AIP de raiz, e linhas e dimensões diferentes. No entanto, como compartilha com os U-209 algumas das suas características que o qualificam como submarinos oceânicos, não é completamente incorrecto chamar-lhe um "209" ainda que bastante dissimulado.

No entanto, na realidade, o submarino apresentado, pese embora o facto de por razões juridicas ou tácticas ser apelidado de U209, todas as características apresentadas pela marinha demonstram que se trata-se de um submarino da nova classe U214, uma nova família de submarinos alemães, que têm em comum, o sistema AIP, instalado de raiz. as suas linhas hidrodinâmicas, e ligas metálicas que permitem ao submarino atingir profundidades maiores . São equipamentos, pensados para o novo sistema de propulsão AIP, o que resulta, por exemplo, em termos de arranjo e acondicionamento dos vários sistemas do navio, em ganhos de espaço consideráveis.

Os novos U-209PN, serão mais espaçosos que os U-209-1400/1500/AIP, e em grande medida mais capazes, principalmente pelas suas capacidades acrescidas quanto a capacidade de mergulho e operação silenciosa.


O U-209PN

Perante a nova proposta dos concorrentes alemães da HDW, e entre optar por um submarino moderno, com um sistema AIP menos eficiente (Scorpene/MESMA), e um U209PN, igualmente moderno, mas com um sistema AIP mais eficiente, a decisão foi no sentido de aceitar a proposta da HDW, e portanto escolher o U-209PN em vez do Scorpéne com sistema AIP-MESMA.

Colocada perante a situação de vitória do projecto alemão, a francesa DCN, contestou o resultado do concurso, porque, em seu entender, o novo submarino, não era um U209, mas sim um U214, e neste caso, a HDW deveria ter sido excluída, porque o submarino apresentado na segunda fase, não era o mesmo que o apresentado na primeira fase. (ver notas sobre a questão jurídica abaixo)

A empresa DCN, terá alguma razão nas suas alegações, uma vez que, pela análise das suas características, o U209-PN, é uma mistura das características do U209 original (disposição interna) com os sistemas e tecnologias que foram desenvolvidos para o U212-A da própria HDW, e tem características que o tornam mesmo superior ao projecto 212, do qual várias unidades foram encomendadas pelas marinhas da Alemanha e da Itália.

A confusão entre U-209PN / U-214 / U-212 ?

As dúvidas sobre que tipo de submarino é efectivamente o U209-PN, prendem-se com o facto de este ter sido apresentado apenas na segunda fase do concurso, tendo na primeira fase a HDW alemã apresentado o U209-1400 (proposto na versão com AIP e na versão sem AIP).

Por causa do sistema de combate, sistemas electrónicos, armamentos e tipo de sensores o U-214 (e o U-209PN) tem provavelmente menos que ver com os mais antigos U209 (dos quais conservam no entanto algumas características, nomeadamente na estrutura interna), e muito mais que ver com o submarino U212.

Este, é um projecto alemão que tem como objectivo substituir os pequenos submarinos costeiros alemães, por um submarino com características de submarino costeiro, mas com dimensões maiores que lhe permitam também operar a longas distâncias e com o sistema de propulsão AIP.

O submarino vai permitir à marinha alemã, se necessário, operar no Atlântico, coisa que com os pequenos U-206 não podia fazer. O U212 foi pensado para as necessidades decorrentes da utilização do sistema AIP. O reservatório de Oxigénio está colocado fora da zona pressurizada do navio, assim como os reservatórios de Hidrogénio. Esta é aliás a maior diferença entre os dois navios, porque o U-214, não tem os reservatórios de Oxigénio na parte exterior, mas sim na parte pressurizada, porque o seu projecto é posterior ao do U212.

Há várias razões para as diferenças entre U212 e U214. O U214, pensado para operar essencialmente no oceano, tem necessidade de submergir a profundidades maiores. É por isto que o seu casco, (ou a parte pressurizada) deve ser mais resistente. O U-214, tem uma área pressurizada uniforme, quase como uma enorme botija de gás. A opção pela colocação dos reservatórios de Oxigénio �dentro� da parte pressurizada, deve-se a modificações e descobertas técnicas nos anos 90, que reduziram os riscos decorrentes da colocação de um reservatório de Oxigénio dentro do casco pressurizado do submarino. Além do mais, o U214 não teria lugar para a colocação dos tanques de oxigenio e teria que ter as suas linhas completamente redesenhadas para o permitir.

Notar que foi possível aproveitar os estudos para instalação do sistema AIP no U214, para possibilitar a sua utilização também nos mais antigos U209 (caso da Grécia e de alguns países da américa latina).

No U-212, o reservatório de Oxigénio está colocado na parte exterior. Como resultado, o U-212 tem uma área pressurizada com dois diâmetros diferentes. A secção frontal (derivada do projecto de submarino realizado pela Thyssen para a marinha Argentina conhecido como TR-1700) é maior que a secção posterior, exactamente porque, nessa secção do navio, está alojado o tanque de Oxigénio. O único problema neste caso, é a possibilidade de existir aí, um ponto de menor resistência à pressão, tornando o U-212 menos eficiente que o U-214 no que respeita a mergulho a grande profundidade.

Outra diferença entre U-212 e U-214, são os lemes. Enquanto que o U-214 tem um leme vertical de proa, o U-214, dispõe de lemes verticais na vela. Também se verifica no leme traseiro uma diferença considerável:
Assim: Enquanto o U-212 tem um leme em " X" o U-214 tem um leme tradicional, na configuração "+"

Quer num caso quer noutro, as razões prendem-se com o conceito de utilização. O leme em "X" do U-212, torna-o menos proeminente, facilitando ao mesmo tempo o "pouso" no fundo do mar. Também por isso, os lemes de profundidade foram colocados na vela e não mais abaixo no casco, como no U-214, o qual, pensado para operar no oceano, não tem que "pousar" no fundo do mar, o que tornaria o leme em X de pouca utilidade. Além disso, o U-212 não tem o leme de profundidade no casco e sim na vela, porque se o navio bater no fundo, não danificará o leme.

Há também vantagens e desvantagens para a mobilidade do submarino, e a sua capacidade para mergulhar ou emergir rapidamente.

Os lemes traseiros dos dois submarinos


Os lemes de profundidade nos dois submarinos

O U209-PN, sendo basicamente um U214, embora cumprindo com todas as exigências da marinha portuguesa, determinadas para os U209 inicialmente propostos, são dos navios mais modernos presentemente em construção, e, serão, em 2010, quando forem incorporados, dos submarinos convencionais mais eficientes de qualquer marinha europeia.


Entretanto, perante a situação criada pela apresentação do U-209PN, a empresa DCN levou a questão aos tribunais, alegando que, a HDW apresentou outro navio, e que portanto devería ser excluida. Houve uma decisão do STE contrária à DCN. - ver página 3 sobre a questão dos submarinos U209-PN

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