Discurso do presidente Lula, na cerimônia de assinatura do decreto de criação do Grupo de Formulação da Estratégia Nacional de Defesa
06/09/2007 - 14h54
Meu caro companheiro Nelson Jobim, ministro da Defesa,Meu caro companheiro Mangabeira Unger, ministro da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo,
Meu caro general-de-Exército José Armando Félix, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional,
Almirante-de-Esquadra Júlio Soares de Moura Neto, comandante da Marinha,
General-de-Exército Enzo Martins Peri, comandante do Exército,
Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito, comandante da Aeronáutica,
Senhores oficiais generais,
Meus amigos e minhas amigas,
Hoje, às vésperas de comemorarmos os 185 anos da Independência do Brasil, tenho o orgulho de estar com os senhores para impulsionar uma missão fundamental para o futuro do País, a Formulação da Estratégia Nacional de Defesa.
Contar com um plano estratégico de defesa, que considera os mais variados cenários futuros, é uma obrigação de todo país que tem responsabilidade com o seu próprio desenvolvimento e com sua inserção soberana no cenário internacional.
Um dos principais desafios para a elaboração dessa estratégia será, justamente, o de aliar o desenvolvimento de nossas Forças Armadas ao desenvolvimento econômico e tecnológico do nosso País.
A defesa é uma área que, ao mesmo tempo, demanda e produz inovações tecnológicas nas mais diversas áreas do conhecimento técnico. O próprio parque industrial brasileiro é uma prova disso.
Ainda na década de 40, o Brasil foi capaz de criar a Fábrica Nacional de Motores, que produziu propulsores para aviões da FAB. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, ela se transformou em nossa primeira fábrica de caminhões.
E se hoje contamos com uma Embraer e com tecnologia aeroespacial como um todo, isso se deve também ao conhecimento e às encomendas de nossas Forças Armadas.
Estou certo de que a reativação do nosso parque industrial militar e o incentivo aos nossos centros de pesquisa do setor, assim como a formação de profissionais cada vez mais e melhor qualificados, será parte central dessa estratégia de defesa.
Quero sobretudo desejar a você, Nelson Jobim, ao Mangabeira, aos comandantes das Forças Armadas e aos outros militares que vão trabalhar na construção desse plano, que vocês terão até o próximo 7 de Setembro do ano que vem para definir um projeto que leve em conta, não apenas recuperar o poder das nossas Forças Armadas, mas também recuperar parte do conhecimento tecnológico que nós já tivemos.
Eu, por acaso, fui ver a Marinha lançar no mar o nosso navio, o submarino Ticuna. E por vontade de conhecer, eu fui a Aramar visitar o nosso projeto de enriquecimento de urânio, onde nós esperamos um dia construir o nosso submarino nuclear.
De vez em quando, quando discutimos no governo a questão da recuperação das Forças Armadas brasileiras, a questão da defesa, sempre aparecem pessoas dizendo que o gasto será muito grande. Esse é um vício do Brasil.
Você não pode cuidar dos pobres porque gasta muito, você não pode cuidar de tal coisa porque gasta muito, você não pode cuidar das Forças Armadas. Todos nós estamos assistindo, ao longo de várias décadas, as Forças Armadas perdendo o seu potencial.
Empresas que foram extraordinariamente produtivas, de vasto conhecimento tecnológico quebrando, falindo. É preciso recuperar isso. Toda vez que alguém perguntar para algum general, para algum oficial: “mas não vai gastar muito?” Nós temos que perguntar quanto custou a gente deixar chegar ao ponto que chegou.
Quanto o Brasil perdeu por nós termos interrompido várias coisas que nós já fazíamos e já produzíamos no Brasil?
Nós já fizemos, desde o dia 22 de janeiro, ministro Nelson Jobim, o PAC do Desenvolvimento e da Aceleração do Crescimento, já apresentamos o PAC para Política Social, já apresentamos o PAC para a Educação, já apresentamos o PAC para a Segurança Pública, e ontem apresentamos um programa para atender 4,2 milhões jovens deste País que abandonaram a escola.
Tudo isso custa dinheiro mas, se nós não fizéssemos, no ano que vem custaria muito mais caro começar porque seria maior o número de jovens abandonados neste País.
Eu acho que agora está na hora de construir o PAC das nossas Forças Armadas e o PAC da nossa Defesa. Eu acho que está na hora de a gente colocar a nossa inteligência, militar e civil, para pensar o que nós queremos ser enquanto Forças Armadas, enquanto nação soberana nos próximos 10 ou 15 anos.
Quando eu convidei o Mangabeira para trabalhar, eu disse ao Mangabeira: Mangabeira, se no final do seu trabalho a gente tiver um desenho extraordinário do que nós queremos para o Brasil, em 2022, quando completarmos 200 anos de independência, eu acho que o Brasil pode finalmente acreditar que o século XXI será o século em que o Brasil se transformará numa potência mundial.
Agora, essa potência só será alcançada se nós não formos subordinados, se nós formos ousados, se nós acreditarmos em nós mesmos.
Depois de ver a centrífuga que eu vi em Aramar, depois de ver que é a melhor do mundo, depois de ver a Petrobras lançar ontem uma plataforma no mar, também, a primeira centrífuga lançada no mundo, que eu não acreditava que pudesse existir, eu fico imaginando o que pode atrapalhar o nosso País.
Apenas a nossa omissão e apenas a nossa submissão. De cabeça erguida, acreditando neste País, nós poderemos construir um país que, certamente, todo mundo já sonhou, mas que pouca gente teve coragem de fazer. Vamos começar enquanto é tempo.
Boa sorte, Mangabeira. Boa sorte, Jobim, e boa sorte às nossas Forças Armadas.